Por Mário Tomé, na XIII Convenção Nacional
O governo português meteu-nos numa guerra sem uma consulta, sequer formal, aos portugueses; numa evidência da captura total da soberania do Estado.
Uma guerra que “tem de durar para enfraquecer a Rússia” como foi proclamado em Março de 22 por Biden e logo por Zelensky.
Só este facto dá para perceber o papel dos EUA que, na sua estratégia de enfrentamento com a China, gerem na Ucrânia uma guerra por procuração contra a Rússia.
A invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin é, na sua essência, um crime de guerra. E a sua visão geopolítica da região pode ser entendida como um revisionismo histórico sem justificação. Se o fizéssemos em África teríamos um apocalipse.
Mas esse facto não nos autoriza a ignorar ou pôr de lado as suas causas e enquadramento geopolítico, o que nos desarmaria para entender o mundo em que hoje se desenrola a luta dos trabalhadores pelo eco socialismo, portanto contra a violência estrutural do capitalismo e do imperialismo.
Essa violência estrutural tem, desde a IIGM, um centro geoestratégico principal: os Estados Unidos da América e o seu braço armado, a NATO: um instrumento de sujeição dos países europeus reconstruídos pelo Plano Marshall norte-americano depois do cataclismo da IIGM e de coacção e agressão armada sem restrições.
O Bloco de Esquerda definiu a seu tempo a “Guerra Infinita” como a estratégia actual do imperialismo para assegurar o seu domínio mundial.
A Reserva Federal, as Agências de Notação, a OMC, o Banco Mundial, o FMI, a OCDE, o Complexo Industrial Militar constituem a rede estrutural do domínio do dólar no mundo, logo, domínio do imperialismo norte- americano, reforçado pelo seu poder militar esmagador, quer em meios quer na rede de bases que cobrem o planeta, para travar a ascensão económica e política de todos os povos e países e, claro, militar, das potências emergentes.
Os entusiasmos de defesa da pátria na época do imperialismo e da guerra infinita são fake news, são criados pela propaganda dos estados e são assassinos para os trabalhadores e os povos.
A única guerra europeia em que o proletariado defendeu, integrado numa estratégia imperialista os seus próprios interesses, foi a II Guerra Mundial em que defrontava o monstro nazi-fascista. E aí fê-lo não só integrando os exércitos imperialistas mas também de forma independente e heroica.
Daí também ser inaceitável a participação do Bloco, – não queria ter estado na situação da camarada Isabel Pires – na visita ao parlamento ucraniano a convite dum nazi que chefiou a chacina de dezenas de trabalhadores reunidos na casa dos sindicatos em Odessa. E que foi convidado retribuir a visita na nossa casa da democracia.
Também não se entende a atitude alheada do Bloco quanto à proposta de Lula para a paz. Espero que não seja por o Presidente do Brasil participar activamente no esforço para a construção de um mundo multipolar.
Devemos apoiar Lula na sua corajosa interpelação ao imperialismo, a recusa de enviar uma bala que fosse para Zelensky, a exigência de cessar-fogo e negociações de paz sem prévias condições.
Aos trabalhadores só lhes cabe lutar pelos seus interesses reais no confronto com a exploração do capital… o que passa também por recusar o aumento de 2% para a Defesa… do armamento!!! e lutar pela sua substituição pelo investimento na Defesa Civil: protecção de pessoas e bens e pela exigência que deve ser também a do Bloco: Cessar fogo imediato, negociações já.
Putin fora da Ucrânia – NATO fora da Europa.
Mário Tomé


