Por Maria Conceição Anjos, na XIII Convenção Nacional
Gostava de vos falar das mulheres, em especial das mulheres com mais idade, as seniores.
Este assunto seria mais impactante se fosse trazido por alguém mais jovem, significaria que a consciência social estaria mais desenvolvida e entranhada na nossa sociedade.
Não sendo assim, infelizmente, ao ser trazido por mim, poder-se-á pensar que estou a defender uma causa que me afeta diretamente.
Mesmo correndo esse risco, gostaria de vos falar das mulheres que:
não abandonam os seus companheiros quando estes têm alta hospitalar, após um internamento;
não pedem o divórcio quando se tornam cuidadoras informais após os companheiros serem atingidos por doença incapacitante, nomeadamente do foro oncológico;
das que hipotecaram ou adiaram as suas carreiras, para tratarem dos filhos, enquanto eles as iam desenvolvendo, aspeto de que ainda hoje se ressentem ao auferirem reformas baixíssimas.
Muitos dirão que o que as estatísticas teimam em nos mostrar se deve ao facto de haver mais viúvas do que viúvos. Será também por isso, mas parece-me existirem outras causas, nomeadamente algumas que se prendem com aspetos culturais.
Os que demoram mais a alterar-se, como sabemos. Aos homens ninguém aponta o dedo por continuarem a fugir às suas responsabilidades enquanto cuidadores. A sociedade aceita com enorme complacência a justificação de que “não tem feitio para isso”, ao contrário do que acontece com uma mulher, em situação idêntica.
A vida foi dura, continua a ser dura para as mulheres em geral, mas muito em particular para as mulheres seniores. Muitas delas relegadas ao isolamento e à solidão, quando enviúvam, outras abandonadas pelos próprios companheiros, outras ainda em residências seniores, quando deixam de ser autónomas e os filhos não as podem acolher devido aos compromissos profissionais.
Há muito a fazer pelas/os seniores, a sociedade deve-lhes isso. Aquilo a que assistimos é a uma enorme indiferença, por parte da sociedade, no que se refere ao envelhecimento, tão mais incompreensível quando todos sabemos, que um dia lá chegaremos.
Como diz Simone de Beauvoir, “Viver é envelhecer, nada mais.”
Este é, sem dúvida, um tema incómodo e até doloroso para muitos e exatamente por isso tentamos não o abordar, varrê-lo para debaixo do tapete, como se isso evitasse o inevitável, o envelhecimento.
Não podemos continuar a permitir que lares ilegais surjam a todo o momento por todo o lado, valendo-se da fragilidade económica das famílias.
Se pensarmos nos casos que têm vindo a público, nos últimos tempos, de situações degradantes, algumas em residências que estão, ou deviam estar, sob o escrutínio das autoridades existentes para o efeito, podemos imaginar o que se passará naquelas em que o controlo é inexistente por desconhecimento absoluto da sua existência.
À semelhança do que se passa com as creches e os jardins-de-infância, devemos exigir que sejam criadas estruturas sociais públicas para todas/os os seniores que delas necessitem, independentemente da sua situação económica, com condições dignas e devidamente fiscalizadas.
Mais do que estarmos centrados no crescimento da população deve-nos mobilizar a qualidade de vida e o bem-estar da mesma.
Enquanto país envelhecido, que somos, urge atender às necessidades deste grupo etário e contrariar a ideia de que “este país não é para velhos”.
Sendo o idadismo o mais absurdo dos preconceitos, temos de o combater com toda a firmeza.
Maria Conceição Anjos


