Por Adriano Zilhão, na XIII Convenção Nacional
Aqui há anos, quando a União Soviética caiu, foi oficialmente proclamado o fim da história.
Há quem pense que, depois disso, os socialistas e comunistas já só podem aspirar a civilizar o capitalismo, acrescentar-lhe qualificativos para as suas partes mais aborrecidas: mitigar a exploração, não derrubá-la.
– A dizer, por exemplo, que, pronto, se é para privatizar a TAP, ok, mas então que seja só um bocadinho; toda, é chato;
– A achar, por exemplo, que se deve, no Parlamento Europeu, votar a favor da expansão das tropas da NATO e dos capitais da União Europeia para Leste;
– Ou, para conter o ditador mafioso da Rússia, armar até aos dentes a NATO, instrumento de guerra e opressão universal do imperialismo dominante, e o ditador mafioso da Ucrânia, que leiloa o seu país ao grande capital americano e europeu.
A NATO, a maior máquina de guerra da história humana, transfigurada em instrumento da autodeterminação dos povos, as coisas extraordinárias que se ouviram, aqui, neste mês de Maio, tão propício a milagres!
Só que não, camaradas. O capital continua a empurrar a humanidade para a barbárie e a guerra sem fim, não tarda nada com tanques Leopard do exército português, pagos à custa de hospitais e escolas.
Há quem pense que propor uma “vida boa para todas as pessoas” é um grande slogan.
Talvez permita desbaratar os partidos que propõem uma vida má para todas as pessoas; e, até, os que só propõem uma vida assim-assim.
Eu, embora nunca tenha estudado publicidade, não penso assim.
Penso que, se queremos ser úteis aos trabalhadores explorados deste país, o partido tem de estar disposto a representar politicamente apenas uma parte das pessoas – não “todas as pessoas”.
Uma parte que é a grande parte das pessoas, os trabalhadores; mas só essa parte – e representá-los contra a outra parte, a parte que detém a propriedade privada dos grandes meios de produção e troca, causa e raiz de todos os problemas que a humanidade no nosso tempo enfrenta: a miséria e a guerra que campeiam no planeta, a exploração desenfreada, a destruição de populações inteiras e a destruição do ambiente.
Para ser politicamente útil a essa grande parte da população – mas não a toda – , o partido tem de ajudar os trabalhadores a unirem as suas lutas e greves, a organizarem-se, sindical e politicamente.
E, camaradas, acreditem: face aos incessantes ataques dos exploradores e fautores de guerra, os trabalhadores estão condenados a procurarem, sempre, os caminhos da luta e da unidade, para se defenderem – e, no momento certo, contra-atacarem.
Sim! Há que defender, e repor, todas as conquistas, as grandes e as pequenas, as directas e as indirectas, o SNS, o ensino público, a contratação colectiva, as empresas nacionalizadas.
Mas não chega. Sem romper com o capital e as suas instituições, a NATO e a UE, sem substituí-las pelas dos próprios trabalhadores, nada se conseguirá de duradouro.
Era preciso, é claro, ter ajudado as lutas e greves dos trabalhadores da refinaria de Matosinhos e da central de Sines, da TAP, dos motoristas de matérias perigosas, dos enfermeiros, dos ferroviários, dos estivadores, dos professores, da Auto Europa; e, no futuro, ajudar as destes mesmos e de todos os outros.
É preciso batermo-nos pela unidade incondicional na luta entre trabalhadoras, sempre as mais exploradas, e trabalhadores; entre trabalhadores brancos e negros; entre trabalhadores portugueses e estrangeiros; entre trabalhadores de todas as opções sexuais.
E bater-nos contra os capitalistas e seus ajudantes: as Amorins e as Azevedos, os Espíritos Santos (de igreja ou não), o PSI20; os Musks, os Bidens, os Putins, os Zelenskis; os Stoltenbergs, as Lagardes e as Von der Leyens, os Centenos; e, também, os Costas a eles hipotecados; os e as capitalistas, qualquer que seja a cor da pele, o sexo, ou a nacionalidade deles.
Hoje, ser útil aos trabalhadores é ajudá-los, paciente e firmemente, a encontrar a via da greve geral unida que porá a nu a fraqueza do regime do capital e abrirá caminho a um governo ao serviço do trabalho e da organização democrática da propriedade social dos grandes meios de produção e troca.
Há slogans que podem não ser novos, mas continuam a ser bons:
– A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.
– Proletários de todos os países, uni-vos!
– Não à guerra imperialista! Portugal fora da NATO!
Adriano Zilhão


