Vai um café!?

por Lurdes Gomes

Um grupo económico que possui, entre outras, uma marca de café, está a implementar uma reorganização a nível nacional nos vários departamentos visando, entre outras, as atividades de logística e distribuição.

A reestruturação passa, no essencial, por aglomerar diferentes departamentos, diminuindo o número de estabelecimentos em território nacional.

No distrito do Porto, as instalações da Direção de Operações que acolhia as atividades de logística e distribuição foram deslocalizadas para o distrito de Braga. Estas instalações juntam num só os antigos departamentos de Viana, Porto e Braga.

A deslocalização do Porto e a consequente fusão dos departamentos tem como premissa uma estratégia de otimização de recursos, bem como as instalações do Porto terem-se revelado insuficientes, provocando uma diminuição na eficiência das operações. Estes são os argumentos apresentados pelo capital!

Quando, no mundo empresarial, se pronunciam sobre planos de sustentabilidade, reestruturação, reorganização, conseguimos entender que os principais visados serão os trabalhadores.

Sim, é isso mesmo que estão a pensar: despedimentos; mútuos acordos; aumento de precariedade; menores salários; sistemas que potenciam a Inteligência Artificial (IA), são algumas das diferentes formas que o capital possui para promover e afinar o aumento de lucros.

Este processo teve início quando os trabalhadores receberam um comunicado que informava que a logística e distribuição a partir de 1 de setembro de 23 deixaria o estabelecimento do Porto e deslocar-se-ia para Braga.

Posteriormente, os trabalhadores foram sendo interpelados para que pudessem chegar a um acordo. Alguns dos trabalhadores mostraram-se indisponíveis para apanhar o “comboio” para Braga.  

Neste caso concreto, os despedimentos foram trabalhados para serem transformados em mútuos acordos carregados de subtilezas.

Para os trabalhadores que terão de se deslocar para Braga irá haver, por certo, um aumento nas despesas de deslocação e de tempo gasto nos movimentos pendulares casa-trabalho-casa, tempo retirado à família, ao lazer, ao descanso e a outras atividades. O comunicado inicial da empresa afirma dispor-se a cobrir o acréscimo das despesas de deslocação, mas quanto ao acréscimo de tempo gasto nada refere.

Quanto a informações formais ficaram-se apenas pelo respetivo comunicado. Neste sentido, os trabalhadores aguardam pelo final do mês para compreender o que os espera, ou seja, atestar se os aumentos nas despesas de deslocação serão realmente custeadas.

Vai um café!? É um de muitos exemplos que expõe a insegurança no trabalho, bem como a necessidade voraz do capital em diminuir custos e aumentar lucros à custa dos respetivos trabalhadores.

Lurdes Gomes

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