por Mário Tomé
Não percam a esperança: Israel vai estar no próximo festival da Eurovisão como vem sendo norma e no Euro de futebol 2024 está na fase de eliminatórias; infelizmente os jogos que se seguem terão que ser disputados fora por causa do genocídio em curso que, por motivos óbvios, não conta com os jogadores da selecção.
A Europa democrática continua a garantir à nação sionista todas as condições como as que lhe outorgou quando a encarregou, de forma mais ou menos explícita, de impedir ou pelo menos obstaculizar o mais possível a revolução árabe nacionalista e anticolonial de base vagamente socialista.
A semelhança estrutural do poder israelita com o nazismo parece não incomodar as exemplarmente democráticas “potências” europeias.
Pode argumentar-se que os castigos colectivos, a destruição de habitações, a expulsão dos palestinos das suas casas, o controlo e restrições do abastecimento de água, para os colonos poderem encher diariamente as suas piscinas, os check points esgotantes, os assassinatos pelas forças policiais e militares e pelos próprios colonos nas suas investidas de assalto e roubo, provocatórias e assassinas, não são nada de novo e são do conhecimento oficial da ONU que até fez centena e meia de resoluções sobre o tema.
Os judeus descendentes dos que escaparam do Holocausto merecem a nossa – de europeus – solidariedade e se assassinam e expulsam os palestinianos desde que puseram os pés na Terra Santa onde outros milhares de judeus conviviam pacificamente com os palestinianos, é porque têm o direito de se defenderem e, até no futebol, a melhor defesa é o ataque..
Quem o afirma são as nações democráticas com os EUA à cabeça, porque o que se passa na Palestina é uma luta ideológica da democracia contra o autoritarismo e contra o islamismo jihadista, de que resulta o natural assalto e roubo de casas e terras e a necessidade de aprisionar dois milhões de pessoas naquela faixa, onde periodicamente os sionistas têm feito as suas hecatombes e agora estão próximos de uma “solução final”.
O que separa o Holocausto do genocídio dos palestinianos? Na aparência é tudo uma questão de escala e de organização industrial. Aliás os sionistas não podiam repetir o holocausto com os palestinianos sob pena de se descredibilizarem. Assim aproveitaram as técnicas e estratégias genocidas das potências coloniais à época: expulsão e chacina pelos militares complementada pelo arbítrio prepotente e racista dos colonos à tripa forra.
Já o programa do partido nacional socialista alemão deixava claro, em 1920, para quem soubesse e quisesse ler: “Exigimos novos territórios para alimentar a nossa nação e instalar o excedente da nossa população”. Este tema é desenvolvido no Mein Kampf iniciada a segunda Guerra Mundial: “Devemos acabar de uma vez por todas com a política de entre guerras e passar à futura política territorial. Mas quando falamos hoje em novas terras no continente europeu, pensamos antes do mais na Rússia e países vizinhos dela dependentes”. Mas já antes, em 1937, Hitler declarava numa conferência com Ribentrop e os altos comandos militares: “Para nós não se trata de conquistar povos mas apenas conquistar espaço para utilização agrícola”. Em 1942 Heinrich Himmler acrescentava que não lhes interessava germanizar os povos do Leste, mas sim que no “Leste possa viver um povo de origem puramente alemã”.
Ou judia: é esta exactamente a inspiração sionista quando Golda Meir dizia que depois do Holocausto aos judeus tudo era permitido e acrescentava noutras ocasiões que “nunca perdoaremos aos árabes obrigarem-nos a matar os seus filhos” enquanto assegurava que não precisavam dos árabes para nada porque tinham trabalhadores de todas as profissões.
Fica claro, para quem pensa que vê no escuro, que condenar Israel por apartheid, por muito adequado e operacional que pareça, se traduziu sempre num involuntário disfarce do genocídio, não só agora em Gaza, mas sempre desde que Israel foi criado juntando os seus objectivos nazis aos interesses estratégicos do imperialismo, primeiro das potências da época depois da potência global terrorista: os EUA.
É, portanto, nesta mistela vergonhosa entre admiradores e cúmplices dos genocidas, lacaio do imperialismo terrorista dos EUA, que Portugal está miseravelmente enfiado pese a autossatisfação imbecil demonstrada pelas mais altas instâncias da pátria.


