por Luís Mouga Lopes
Apesar das 14 demissões do governo, António Costa não aproveitou o facto de ter maioria absoluta e de ser querido entre os seus, mostrando não ter a inteligência e a capacidade suficientes para governar mais tempo. Já se tinha percebido tal característica quando, em 2019, rasgou o acordo que tinha com o Bloco de Esquerda (BE). Contudo, a pergunta que fica por responder é: porque é que António Costa não quis continuar a governar, tendo sido ele o decisor da sua demissão? Há quem diga que ele se demitiu, não por causa das atitudes miseráveis a que o PS já nos habituou (teia de interesses), mas por causa de um tal parágrafo…! Não sei.
Porém, ainda não vislumbrei o que António Costa pretende. Será a presidência da república? Será a presidência do conselho europeu? Também não sei. Só sei que a verdade deste tabu virá com o tempo e que, se nas próximas eleições legislativas a esquerda obtiver uma maioria parlamentar, o que não será fácil acontecer, para bem do País deverá haver um acordo multilateral escrito entre todos os partidos de esquerda… para toda a legislatura. Assim, em vez de se viabilizar aos bocadinhos e às vezes as decisões políticas do PS, que é um partido que tende a governar à direita, o BE contará com um governo “obrigado” a governar à esquerda; sempre!
Lembro, com muita pena, que o PS, juntamente com o PSD/CDS, foi o partido que mais privatizou, que mais “ganhou” com o esquema das portas giratórias e do amiguismo entre o público e o privado. Miseravelmente, a cada esquina existe um Joaquim Ferreira do Amaral e um José Luís Arnaut e um Diogo Lacerda Machado e uma Maria de Belém… e todos os seus “discipulus”. Todos crentes e sociais-democratas, portanto! Basta lembrar a obra maldita “Contos proibidos, memórias de um PS desconhecido”, escrita pelo camarada Rui Mateus, condenado pelos seus, para confirmar o que estou para aqui a escrever, «que revela a falta de transparência da vida político-partidária e acusa o parasitismo daqueles que passam a vida a apregoar que estão na política por patriotismo e com sacrifício pessoal, pois poderiam estar muito melhor se se tivessem dedicado a atividades do sector privado — mesmo quando se sabe que, antes de entrarem na política, não tinham obra nem dinheiro.»
Por isto e por muito mais (se tiverem coragem e se encontrarem o livro, leiam-no), um eventual acordo à esquerda terá de esclarecer quais são as soluções para os problemas que as pessoas enfrentam, nomeadamente na justiça, na educação, na saúde e na habitação. Medidas que passam, entre outras, tal como o BE refere, por planear e executar investimento público, por garantir 25% da habitação acessível na nova construção; proibir a venda de casas a não residentes (acabar com a especulação); acabar, de imediato, com o regime do residente não habitual (acabar com o branqueamento de capitais); criar uma moratória aos novos empreendimentos turísticos (acabar com a financeirização do turismo); garantir uma duração mínima de cinco anos para os contratos de arrendamento (acabar com a guerrilha social); impor tetos máximos para as rendas (distribuição de rendimentos), por zona e tipologia, de acordo com o critério do Programa Porta 65.
Ao mesmo tempo, um próximo governo terá de contrariar o parco crescimento dos salários reais (ajustados à evolução dos preços), permitindo que os trabalhadores (todos nós) consigam acompanhar a inflação, resultado da enorme subida dos preços da energia (petróleo e gás) e das matérias-primas essenciais à economia; que se traduz no constante e excessivo aumento dos custos da eletricidade e do transporte de mercadorias; dos processos produtivos e da distribuição de alimentos e outros. Sem medo dos “manda-chuva” dos “políticos-faz-de-conta”, e tão pouco dos seus “discipulus”, um próximo governo terá de, também por decreto, controlar os preços dos bens e serviços fundamentais e tributar os lucros extraordinários das empresas (outrora privatizadas) que têm lucrado de uma forma diabólica com as muitas crises cíclicas.


