“…a armadilha está montada e vai agravar-se até ao dia das eleições. É o regresso e em força da falácia do voto útil”
Luís Gomes, coordenador distrital do BE/Santarém e segundo na lista candidata às Legislativas, interveio juntamente com Ana Alves, Bruno Góis e Mariana Mortágua no comício de campanha em Torres Novas, no passado dia 28. O coordenador do BE/Santarém chamou à atenção para a “armadilha do voto útil”, questionou a pressão para uma campanha presa na “governabilidade” e na “estabilidade”, referiu as lutas em que o Bloco está envolvido na região e manifestou forte preocupação pelos caminhos das guerras na Europa e no Médio Oriente. Reproduz-se na íntegra a intervenção de Luís Gomes:
“Anda por aí um grande frenesim sobre quem viabiliza quem, quem vota o Orçamento de quem, que maiorias se poderão formar, se o bloco central se vai entender formal ou informalmente, se vai haver governabilidade, se se consegue estabilidade… e mais um rol de coisas do género.
Sobre isto já ouvimos os líderes do PS e do PSD dizerem tudo e mais um par de botas. Já disseram e já se desdisseram incontáveis vezes desde o início da pré-campanha.
Claro que depois de 10 de março, todos temos a responsabilidade de ponderar as melhores soluções em função dos interesses dos trabalhadores, da defesa dos serviços públicos, da luta essencial pelo ambiente e pela transição energética.
Mas só estaremos em melhores condições para o fazer se quem nos defende conseguir alcançar posições mais sólidas em termos políticos e eleitorais. E é essa a luta do Bloco nesta campanha, lutar pelas nossas propostas e pelo nosso programa, conseguir uma vida digna para o nosso povo.
A maioria de nós já tem experiência suficiente para saber que a armadilha está montada e vai agravar-se até ao dia das eleições.
A pressão para que cada pessoa vote não em quem confia, mas pela governabilidade e pela estabilidade – sempre aparentes – regressou e em força, sempre para levar água ao moinho dos partidos do bloco central.
É o regresso e em força da falácia do “voto útil”, depois de todos terem dito e jurado que, com o que se passou em 2015 e com a geringonça, essa coisa do voto útil tinha acabado. Mas não têm emenda, voltaram ao mesmo, voltaram ao discurso da manipulação da vontade democrática de cada um!
Nada mais falso. Repare-se:
– A maioria absoluta do PS, conseguida pela ideia do voto útil, seria o alfa e o ómega da governabilidade e da estabilidade, mas caiu a meio do mandato;
– Os governos regionais dos Açores e da Madeira tinham apoios parlamentares maioritários, mas ficaram longe de conseguirem chegar ao fim;
– Na Câmara de Lisboa há uma chamada “maioria de esquerda” com possibilidade de fazer uma política alternativa, mas o PS viabiliza a generalidade das medidas neoliberais da direita e até orçamentos.
Outros exemplos podiam ser dados. Mas o principal é perguntarmos: afinal é o voto útil que garante governabilidade e estabilidade? Para que serve então o voto útil?
Só serve para uma coisa, é para levar as pessoas a votarem naquilo que não querem.
Eventuais maiorias só se fazem depois dos votos. Até lá, é preciso lutar e votar por quem nos defende – e aqui o Bloco tem provas dadas. Clareza sobre o futuro é ser claro sobre as propostas e sobre o modelo de sociedade que cada um defende – e aqui o Bloco tem propostas claras.
Mais do que divagar por cenários pós-eleitorais, o Bloco apresenta as suas propostas, luta por elas, afirma o seu programa eleitoral em confronto com quem diz que quer aumento dos salários, mas não desbloqueia a contratação coletiva, com quem diz defender o SNS, mas continua a favorecer os privados, com quem faz juras pelo ambiente, mas não recua perante qualquer bom negócio imobiliário à beira-mar.

Afinal, quem no distrito de Santarém luta pela abertura de creches e serviços de apoio públicos a idosos e a pessoas com deficiência?
Quem propõe o alargamento dos passes intermunicipais à CP e à ligação da nossa região com a Área Metropolitana de Lisboa?
Quem defende no seu programa a mobilização pública dos fogos devolutos dos grandes fundos financeiros para enfrentar a crise da habitação?
Quem não hesitou nos direitos dos professores e na defesa de um ensino público de qualidade?
Que força política sempre se bateu pelo fim das portagens na A23?
Quem tem lutado pelo Tejo e pela sua bacia hidrográfica contra os poluidores? Quem sempre apoiou a luta contra o crime ambiental da Fabrióleo?
Quem exige investimento para a redução das perdas de água da rede, aproveitar as águas pluviais e reutilizar as águas recicladas?
Quem quer a produção e o consumo de bens alimentares de proximidade e de agriculturas sustentáveis, com proteção do trabalho agrícola e combate às redes de tráfico humano?
Quem apresentou propostas legislativas para o associativismo e gestão agregada dos pequenos produtores florestais como forma de controlo do eucalipto e de combate aos incêndios?
Quem sempre defendeu a regionalização democrática em vez da municipalização negociada entre PS e PSD?
Claro que tem sido o Bloco de Esquerda!
Este é o nosso património, bem conhecido desde a eleição de Carlos Matias em 2015, pela defesa dos interesses da nossa região, sem nunca vacilar, assim dita a história da nossa representação parlamentar.
A estabilidade de que precisamos é a das nossas vidas, a da segurança que nos dá o Bloco na luta por uma política para conseguirmos uma vida digna, uma vida para viver e não apenas para sobreviver.
Finalmente, não escondemos que estamos a passar por uma situação muito complexa de guerras destruidoras.
A nossa posição sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia é inequívoca e não deixaremos de lutar pela paz em vez da loucura da corrida armamentista que está a ser internacionalmente promovida.
A solução só pode ser a paz e passa, desde logo, por Putin sair da Ucrânia, mas também pela NATO sair da Europa. Os países europeus devem cooperar para a sua defesa, mas não têm de se submeter às estratégias belicistas de outras potências, sejam elas quais forem.
Coerentes com a condenação da invasão da Ucrânia, condenamos igualmente a invasão de Gaza por Israel. O genocídio tem de terminar, mas as potências do eixo euro-atlântico continuam a apoiar o governo genocida de Israel. Também isso nos distingue dos partidos do bloco central.
Defendemos o reconhecimento do Estado da Palestina e se o ministro Cravinho chamou o embaixador da Rússia a propósito da estranha morte de Navalny, também já o devia ter feito em relação a Israel a propósito da mortandade que está a provocar na Palestina, conforme já reconhecido pelo secretário-geral da ONU. O governo tem dois pesos e duas medidas, deita lágrimas de crocodilo sobre o povo palestiniano, não é coerente e merece as mais duras críticas do Bloco. Toda a nossa solidariedade com o povo da Palestina.
Uma certeza temos:
A luta pelo voto no Bloco é essencial, não pode ser trocado por qualquer ilusão sobre maiorias, governabilidade ou estabilidade. Sejam quais forem os resultados eleitorais, a situação dos trabalhadores e trabalhadoras é de grande instabilidade na vida, é de precariedade e de perigo de empobrecimento. Só a mobilização social imporá mudanças a favor dos trabalhadores, com o apoio do Bloco.
Vamos votar Bloco!


