VI Encontro Ecossocialista Internacional e I Encontro Ecossocial América Latina e Caribe

Síntese elaborada pelo Comité Organizador

Nos dias 9, 10 e 11 de maio realizou-se, em Buenos Aires, o VI Encontro Internacional Ecossocialista e o Primeiro Encontro Ecossocial Latino-Americano e Caribenho. Foi o primeiro encontro ecossocialista internacional realizado fora do continente europeu e também o primeiro a reunir o movimento ecossocialista para um debate franco sobre a confluência das crises do capitalismo, os desafios da alternativa socialista nos tempos atuais e uma proposta de programa que possa orientar o movimento num contexto de crise civilizacional agravada por fenómenos extremos derivados das alterações climáticas.

O primeiro debate entre organizações, com a participação de 60 entidades representantes de 15 países, destacou a necessidade de caracterizar o sujeito revolucionário para além da ideia de “pessoas” – mencionada em muitas das intervenções. Foram problematizadas as mudanças na classe trabalhadora e nos setores mais dinâmicos da atual luta anticapitalista. Entre esses setores, os feminismos, os territórios em luta e a nova classe trabalhadora foram identificados como centrais.

A crise da alternativa socialista foi analisada a partir do entendimento de que durante o Século XX não existia “socialismo pleno” e esta alternativa entrou em crise. Foram abordadas as experiências da Venezuela, Equador e Bolívia, bem como o chamado Socialismo do Século XXI. Contudo, concluiu-se que essas alternativas não avançaram e acabaram seguindo uma lógica extrativista na região. Neste sentido, e apontando as contradições dos governos do ciclo progressista, entendeu-se que há uma oportunidade para que o ecossocialismo seja visto como uma alternativa superior.

Foi destacada a necessidade de radicalizar as lutas territoriais, para que as experiências que já estão em curso, como a agroecologia e a produção comunitária, sejam entendidas como condição da possibilidade de garantir vitórias aos setores em luta e reorganizar a classe trabalhadora a partir da problematização da relação campo-cidade.

A naturalização das guerras – e consequentemente a repressão dos migrantes climáticos, a perseguição aos movimentos sociais e a diversidade das lutas entre o Norte e o Sul Global foram mencionadas como alguns dos principais desafios que o construção do movimento ecossocialista internacionalista encontrará durante o seu processo da construção, e deve ser incluído centralmente na agenda do debate para poder avançar de forma propositiva nestas questões.

Finalmente, foi acordado que o movimento ecossocialista necessita de um programa que esteja ao nível do atual momento histórico, que seja construído de forma democrática e participativa, e que abranja todos os sectores radicalizados e em dificuldades, numa perspectiva anticapitalista, antirracista, feminista e de superação do sistema e de todas as opressões. Para atingir o objetivo de dar continuidade ao processo de construção da Rede Ecossocialista Internacional conta-se com os grupos e organizações que participaram das reuniões anteriores.

O objetivo é construir o programa, coordenar as lutas nos diferentes territórios e fortalecer o movimento ecossocialista global através de uma integração dinâmica que pode avançar na produção de sínteses e propostas coordenadas de ação específicas. A criação de uma Rede Ecossocialista Latino-Americana e Caribenha para o debate específico sobre questões regionais, com o mesmo espírito de construção da Rede internacional. As duas propostas serão inicialmente incentivadas pelos comités organizadores dos Encontros Ecossocialistas Internacionais.

Os próximos encontros presenciais estão previstos para 2025 no Brasil e 2026 na Bélgica. O primeiro será organizado durante a COP 30, em Belém/PA, no âmbito da construção da Assembleia Popular, com reforço das críticas à inutilidade da conferências. Será o II Encontro Ecossocialista Latino-Americano e Caribenho, focado sobre questões locais. O segundo será o VII Encontro Ecossocialista Internacional, com a objetivo de fortalecer e intercambiar processos de construção ao nível global.

O debate de um processo de transição terminológica entre ecossocial e ecossocialista foi superado, uma vez que os movimentos e organizações entenderam que o termo ecossocialista é aquele que melhor traduz as práticas que muitos dos grupos já estão a fazer acontecer nos territórios, além de afirmar o horizonte de construção a partir mudanças estruturais e sistémicas.

O VI Encontro Ecossocialista Internacional foi considerado o mais propositivo de todos os organizado nos 10 anos de realização dos encontros, também foi avaliado como o mais diversificado programaticamente, além de ser o mais democrático e participativo na história das reuniões.

O Encontro terminou com um apelo à solidariedade com as pessoas afetadas pelas cheias no Rio Grande do Sul no Brasil e com os presos políticos marroquinos.

Uma das novidades na preparação destes Encontros foi a realização de pré-reuniões, uma delas presencial em Euskal-Herria que contou com a participação significativa dos movimentos  ambiental e ecológico, social e político deste território, e também atividades on-line que permitiram começar a pensar no desenho do programa do Encontro baseado nos problemas que os grupos escolheram como centrais através de assembleias virtuais ampliadas com a participação de diversas organizações de países diferentes.

O encontro de Buenos Aires foi organizado pelo Poder Popular e pela Attac Argentina. A Comissão Organizadora incluiu a organização política Marabunta e, desde a Europa, com o SolidaritéS que participou em todo o processo de construção, fornecendo uma importante ligação com as organizações no Norte Global. A coordenação política internacional incluiu a participação de membros do Comité Organizador e grupos do Brasil (Rede Brasileira de Ecossocialistas e PSOL), Euskal-Herria (EH Gune Ekosozialista e LAB) e Chile (Alternativa Ecossocialista).

No Encontro realizaram-se 17 mesas temáticas e 4 plenárias abertas à ampla participação de ativistas e grupos. No total, mais de 240 pessoas de 15 países participaram presencialmente das atividades, e mais de 500 acompanharam os debates pelas redes. Foi a primeira vez que o tema “Racismo Ambiental” esteve presente num dos Encontros.

Todo o financiamento necessário para tornar o evento uma realidade veio dos grupos e organizações participantes. O nosso desafio agora é dar continuidade à organização ecossocialista no Brasil, com vistas à Reunião de 2025.

(Uma delegação da Rede Ecossocialista – Associação Política (Portugal) participou no VI Encontro Internacional Ecossocialista, em Buenos Aires, onde foi apresentada a Revista ECOSSOCIALISMO)

[Pintura de Antonio Carrion – Set 2011 – Museu de Arte Latino-Americana, Buenos Aires]

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