por José Carlos Lopes

Quando o Bloco de Esquerda se propõe nesta Conferência Nacional, debater o papel do partido neste ciclo político, é inevitável perguntar, porque se deixam aderentes para trás? A exemplo da situação concreta do BE a nível do concelho de Ovar que há mais de dois anos está sem qualquer tipo de organização e direção estatutária ou mesmo qualquer outra de forma temporária para envolver e mobilizar todas e todos os aderentes no debate, intervenção e ação política local.

Torna-se assim imperioso, reafirmar o artigo 1.º dos estatutos do BE “Definição e Objetivos”, em que é garantido, que:

“2 – O Bloco de Esquerda, adiante também referido como Movimento, inspira-se nas contribuições convergentes de cidadãs e cidadãos, forças e movimentos que ao longo dos anos se comprometeram e comprometem com a defesa intransigente da liberdade e com a busca de alternativas ao capitalismo. Pronuncia-se por um mundo ecologicamente sustentável e mais respeitador de todos os animais. Combate todas as fontes de desigualdades sociais, baseadas em formas de exploração e exclusão de caráter étnico-racial, de género, de orientação sexual, de identidade de género, expressão género e características sexuais, de idade, de religião, de opinião, de classe social ou baseadas na existência de diversidade funcional, não sendo complacente com comportamentos que vão contra estes princípios. Como força política internacionalista, assume a defesa dos Direitos Humanos em todo o mundo, sem exceções.

3 – O Bloco de Esquerda defende e promove uma cultura cívica de participação e de ação política democrática como garantia de transformação social, e a perspetiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão.”

No entanto e na prática, os aderentes do Bloco em Ovar continuam à margem dos direitos estatutários básicos, sem órgão de direção, cuja Comissão Coordenadora Concelhia assumidamente perdeu legitimidade, sendo negado igualmente a possibilidade de constituição de um núcleo capaz de dar resposta organizativa estatutária à generalidade dos aderentes que então se continuavam a rever no Bloco e a manifestar entusiasmo, disponibilidade e empenho para reforço e afirmação do partido.

Passaram mais de dois anos em que se cristalizou um cenário de desagregação e crise interna, que deixou o BE em Ovar sem direção política, e sem perspetivas de a nível distrital e nacional haver qualquer iniciativa que resgate o partido neste concelho, do abandono a que ficou votado, em que os aderentes, independentemente do seu posicionamento neste processo, ficaram igualmente à margem da vida organizada no Bloco.

Perante tanto silêncio e desvalorização do estado em que se encontra a organização do BE em Ovar, persistentemente alertado junto dos vários órgãos de direção nacional, para que os aderentes de Ovar e seus direitos estatutários sejam respeitados e tidos em linha de conta pelos órgãos competentes do partido/movimento. As divergências e posicionamentos críticos que resultaram em falta de confiança política, no âmbito local e distrital, acabaram como fatores incómodos ao ponto de deixar para trás a generalidade dos aderentes, numa concelhia que reconhecidamente tinha capacidade de organização e iniciativa política própria, como sempre foi reconhecido pelos próprios dirigentes, responsáveis pelo desenvolvimento deste processo que remeteu o BE de Ovar ao silêncio, há falta de iniciativa politica, ao imobilismo, à desarticulação e ao inevitável enfraquecimento e demissionismo.

Dois anos depois, nenhum órgão estatutário de direção do BE pode manifestar desconhecimento do abandono a que a atividade no concelho de Ovar foi votada.

A expectativa de que ainda seria possível construir caminhos transformadores, é cada vez mais uma ilusão ou desilusão. Assim a V Conferência Nacional fizesse arrepiar tal caminho de deixar aderentes para trás, por manifestarem diferentes análises politicas.

José Carlos Lopes

 Nota: texto para boletim da V Conferência Nacional do Bloco de Esquerda