Por Carlos Matias
O imperialismo americano continua dominante, desde o plano económico e financeiro ao plano militar. Nenhuma outra superpotência dispõe no mundo de tão poderoso dispositivo militar. Perante este poderio, a União Europeia é um anão e Portugal um pequeno satélite dominado por uma elite comprometida com a finança e a política do chamado “campo ocidental”.
A criminosa invasão da Ucrânia por parte da Rússia enfrentou a resistência do povo ucraniano. Mas foi encarada pelos EUA e pela NATO, seu instrumento, como uma oportunidade para enfraquecer a Rússia, imperialismo decadente e velho rival, e atrasar o surgimento de outros polos que disputem a hegemonia global. Desde o início e em mais de dois anos de guerra, nunca o poder e influência dos EUA e da UE foram exercidos para obrigar a Federação Russa a negociar um plano de paz. Pelo contrário, a guerra tem sido aproveitada para aumentar a pressão nas fronteiras com a Rússia, com novas adesões à NATO e a instalação de novas bases militares. A par da invasão da Ucrânia e da adoção da lógica belicista dos EUA e da NATO, ocorre o crescente alinhamento de vários outros países, com a China à cabeça, num polo rival dos EUA e do chamado “mundo ocidental” que gravita à sua volta.
O poder económico e militar deste polo emergente é apreciável: Por agora, é imprevisível o seu crescimento e dimensão futura. Mas, de momento, o que prevalece é ainda, de longe, o aparelho militar e industrial dos EUA e dos seus satélites, na NATO. Desde o primeiro momento, deveria ter prevalecido a defesa da paz, centrando esforços em evitar um previsível morticínio, de parte a parte a parte. Pelo contrário, sobrepôs-se a lógica belicista e armamentista da NATO e dos seus arautos. As centenas de milhares de mortos são o preço de sangue já ,pago pelos povos russo e ucraniano. Quanto mais decadente fica também o imperialismo americano, mais agressivo se torna.
O fim da agressão à Ucrânia, com a libertação do país das tropas de Putin, nunca ocorrerá com apoio das armas da NATO. Quem arma os criminosos que neste preciso momento cometem um genocídio em Gaza nunca serão os libertadores do povo ucraniano – nem de nenhum outro, como a história comprova. Solidariedade com o povo ucraniano é exigir um cessar-fogo e lutar por um plano de paz; não é alimentar a vertigem belicista com o apoio ao envio de mais armas para a Ucrânia, sempre compensado pelo lado russo com nova escalada militar, nem branquear o regime de Zelensky, aplaudindo-o de pé.
O perigo da utilização de armas nucleares é real e o alastramento da guerra na Ucrânia com o envolvimento direto e assumido de forças armadas de outros países, como já foi defendido pela França, continua presente. Sejamos claros: a guerra apenas serve às grandes potências, não interessa aos povos. Invocar a necessidade de escolher o campo da NATO na guerra da Ucrânia é, pois, criar ilusões; é entrar na defesa de um dos campos na disputa entre potências e alinhar nos conflitos pela hegemonia global; é minimizar o papel do imperialismo americano e seus aliados servis, na dinâmica belicista e no constante soprar das brasas do conflito.
Quem invoca a emergência de vários imperialismos, dos principais aos “secundários”, dos mundiais aos “regionais”, está de facto a minimizar o papel axial dos EUA e da NATO no ordenamento mundial e, em particular na Europa, onde países estão convertidos em vassalos, como no caso português. De facto, há quem, na prática, adote a visão do chamado “campismo”. São os que esperam que provenha do campo da NATO a força libertadora da Ucrânia contra a invasão russa. “Putin fora da Ucrânia, NATO fora da Europa” é a única consigna verdadeiramente libertadora. Defende a PAZ, sem margem para os ziguezagues políticos de quem hoje não se opõe ao contínuo envio de mais armas da NATO para a Ucrânia, mas, logo a seguir, se declara enfaticamente contra a escalada belicista.
Nota: Texto publicado no Boletim nº2 da V Conferência Nacional do BE

