Por Nuno Pinheiro
“Os cobardes morrem muitas vezes antes de morrerem; os valentes nunca experimentam a morte, exceto uma vez.” Shakespeare, ‘Julius Ceaser‘
Caraterizar o reformismo como uma forma de cobardia, pode parecer excessivo e politicamente incorreto, porém não deixa de estar certo. Não sendo o primeiro, o mais importante momento de revelação dos partidos reformistas foi a votação dos créditos de guerra (1ª guerra mundial) pela Social-Democracia alemã. Talvez o reformismo tenha morrido aqui pela primeira vez. Talvez pela cobardia de não querer afrontar a onda de nacionalismo vigente. Não valerá a pena detalhar outras mortes, até chegarmos a Portugal em 1974 (poder-se-ia recuar mais).
Lembrar-se-ão todos os que estiveram em lutas em 74/75/76 que o papel do PCP era, para não ser muito duro, o de travão. As lutas tinham que estar dentro de certos limites e não afrontar o poder. O limite do PCP estava naquele poder frágil e instável de 75, o medo era, sobretudo o de ser ultrapassado pelas massas nos seus objetivos “democráticos e nacionais”. A ideia de um PCP a querer tomar o poder a 25 de novembro é apenas um pesadelo da direita que foi útil para conter os movimentos operários, camponeses, de moradores, estudantes dessa altura.
Igualmente interessante foi perceber como em dois anos, com nacionalizações, reforma agrária e muita organização laboral e popular, os limites da social-democracia tinham sido largamente ultrapassados. Os anos dos governos Soares, vistos como a “normalização” do sistema democrático, são os anos da contenção das conquistas de abril nos limites que o PS e o sistema capitalista pudessem aceitar.
Já neste século vimos de novo os limites do reformismo social-democrata. Primeiro tivemos os ataques Thatcheristas de Sócrates a categorias profissionais, depois, com a crise de 2008, a austeridade iniciada nos PEC, que a Troika e o PSD reforçaram. Tal como o PSD, o PS sempre achou que eram os trabalhadores e a classe média a pagar a crise.
A “Geringonça” foi um momento excecional na história do PS, as alianças que, à exceção da Câmara de Lisboa, tinham sido sempre à direita, agora eram concessões à esquerda. Havia no PS uma enorme vontade de poder, mas o caminho a percorrer na reversão das medidas da Troika era mais curto. Foi assim que, depois de algumas cedências (manuais escolares, propinas, Prevpap, passes…) que o PS não desejaria, Costa liquidou a geringonça. As políticas de direita do seu governo de maioria absoluta são a verdadeira face da social-democracia.
A um reformismo social-democrata que chegou aos seus limites, não procurando mais que a gestão do sistema capitalista de uma forma um pouco mais humana, é preciso contrapor a coragem revolucionária. Isto não significa a recusa do trabalho parlamentar e autárquico de forte e inevitável componente reformista, nem colaborações com partidos reformistas, ou mesmo a participação em movimentos por objetivos concretos, significa apenas que essa colaboração e participação deve ser feita com objetivos revolucionários, com o objetivo de alargar a base social de apoio à revolução. A perspetiva revolucionária “o mundo eu vou mudar” deve ser a forma de participação dos revolucionários em todos os movimentos seja o feminista (que percorreu um longo caminho desde a reivindicação do direito de voto), sejam outros existentes ou que possam surgir, ou mesmo o movimento laboral em que necessitamos de encontrar forma de ultrapassar o controle burocrático do PCP que se destina sobretudo (e essa é uma marca do reformismo) a manter os próprios lugares no aparelho.
O aparelho é historicamente uma das portas de entrada do reformismo pois tende a priorizar a própria sobrevivência. Um partido burocratizado afastar-se-á dos caminhos da revolução quer pelo aparelhismo, quer por tendencialmente se isolar da sociedade sendo politicamente vazio.
A cobardia reformista só pode levar a derrotas, as vitorias não são garantidas, mas o único caminho para elas é a coragem revolucionária.
Nota: Texto publicado no Boletim nº 2 da V Conferência Nacional do BE.

