SOBRE O 25 DE NOVEMBRO

Por Mário Tomé

Quanto ao que me diz directamente respeito, a resposta do comando da PM aos telefonemas de Vasco Lourenço, na noite de 25, para que nos “entregássemos” em Belém por ordem do Presidente que não sei se não estaria sob coação foi: o Regimento está às ordens do Presidente da República. Não aceitamos a vossa (dos golpistas) ordem ilegítima para nos apresentarmos em Belém. Os comandantes não abandonam as suas tropas ao contrário do que fizeram os oficiais paraquedistas que fugiram para Cortegaça. Tanto bastou para o cerco à PM que custou 3 mortes.

Os conspiradores – os militares democratas do Grupo dos Nove com o Vasco Lourenço à cabeça – precisavam, e mais ainda, hoje, que o seu regime está a apodrecer, esconder dos cidadãos a verdadeira razão que os moveu: acabar com a única forma válida, no mundo moderno, de sustentar a credibilidade e a ética da democracia representativa: a participação popular, a vitalidade do espaço público.

Para isso usaram o medo, arma de Salazar: “o povo na rua leva à guerra civil” e o “PCP quer tomar o poder”.

De facto, o PCP só queria continuar no governo com o PS, o PSD e o CDS tentando usar o povo (ou os “Páras”) como força de pressão.

Guerra civil? O movimento popular estava desiludido e debilitado pela ofensiva da direita em aliança com os bombistas e às costas do PS, pela repressão terrorista e bombista do governo (que calou à bomba a Rádio Renascença), pelas manobras soturnas do PCP e pela inconsequência da esquerda revolucionária; a força militar estava toda do lado do centro e da direita, à excepção de duas ou três unidades que continuavam a achar que os soldados devem ajudar o povo simples e não serem instrumento para o reprimir.

Quando a PM levava comida aos Deficientes das Forças Armadas em luta (sem a qual não teriam hoje a sua Associação), os Comandos de Jaime Neves dispersavam-nos à pancada e a tiro. Eram duas visões irreconciliáveis: a ética política e a ideia de que nada do que é humano nos é estranho, contra a que, desde o 25 de Novembro, guia a medíocre elite política, ajoelhada perante a finança – a de que ninguém é responsável por nada, excepto os fracos e os pobres que se lixem.

Quanto ao que me diz directamente respeito, a resposta do comando da PM aos telefonemas de Vasco Lourenço, na noite de 25, para que nos “entregássemos” em Belém por ordem do Presidente que não sei se não estaria sob coação foi: o Regimento está às ordens do Presidente da República. Não aceitamos a vossa (dos golpistas) ordem ilegítima para nos apresentarmos em Belém. Os comandantes não abandonam as suas tropas ao contrário do que fizeram os oficiais paraquedistas que fugiram para Cortegaça. Tanto bastou para o cerco à PM que custou 3 mortes.

Na PM havia 2 mil homens. Se o golpe fosse nosso (para quê?), bastaria descer a Calçada da Ajuda e ir prender Costa Gomes em Belém que tinha como defesa contra um “golpe de Estado armado” a guarda de polícia normal.

Hoje é que se impõe ao povo a vontade de quem manda: os multimilionários, os assassinos de voz meiga, os promotores de guerras, os que investem no armamento em vez de na saúde e educação… “a paz o pão habitação saúde educação “. Sabemos bem.

Durante o PREC os movimentos populares com contradições naturais e o desespero dos chulos do capital, delineavam um caminho, o da Grândola Vila Morena do Zeca Afonso que anunciou o 25 de Abril.

Passar do fascismo colonialista e assassino com o povo na miséria às ordens brutais dos Donos Disto Tudo sem confrontos e convulsões seria impossível. Mas com a referência do Grândola.

Os golpistas do 25 de Novembro escolheram a paz da nova repressão imposta pela alienação das consciências, pela paulatina destruição do espírito crítico pela obediência ou seguidismo da propaganda de quem pode. Sabemos bem que as eleições – necessárias obviamente – sem contraponto no movimento social activo só dão poder a quem já o tem e a disputa fica entre os que têm o poder repartido entre partidos que defendem no essencial o mesmo – e isso é o que o capital cada vez mais brutal na sua crise impõe pela ordem repressiva acompanhada pela manipulação das fake news – e que com a degradação do espírito crítico vai dar ao Trump, ao Chega, ao Milei, à Le Pen ao fascismo eterno como dizia o Umberto Ecco.

Agora preparam o povo para, bovinamente, se deixar mobilizar para uma qualquer guerra que o imperialismo impuser e a indústria do armamento exigir.

Até lá fecham os olhos ao genocídio na Palestina incapazes de impor sanções e de cortar relações com o estado sionista, jogam à bola e batem palmas no festival da canção aos representantes do apartheid genocida.

Ah! já me esquecia… a crise na habitação a crise no ensino a crise na saúde: eles fazem o que podem!

Mário Tomé

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