por Lurdes Gomes
Os hospitais são entidades que durante 365 dias no ano não param e, possuem uma multiplicidade de tarefas, atividades, funções sejam assistenciais ou não assistenciais. Com toda esta diversidade encontram-se várias categorias profissionais que devem estar alinhadas, motivadas para que toda a cadeia funcione com o mínimo de erro e falhas.
Há muitos fatores que poderiam ser analisados e um deles seria: será que numa entidade desta natureza há uma valorização interna dos seus profissionais? Tenho muitas reservas quanto à resposta a esta pergunta, mas ficará para uma futura reflexão.
Será que numa estrutura desta natureza os profissionais são assediados? Não sei responder a esta questão, sem uma reflexão profunda sobre o termo “assédio” e a relação com trabalho? Sim, porque para “alguns” assinalar uma falha de alguém na frente de muitos é tudo normal!
Hoje, a análise é algo concisa porque o foco da reflexão é um artigo “O impacto das multitarefas em contexto hospitalar” (O Impacto das Multitarefas em Contexto Hospitalar | Germinare — Revista Científica do Instituto Piaget). O ambiente atual é para cada vez fazermos mais em menos tempo e estarmos interligados a diferentes aplicações e a executar multiplicas ações.
Assim, a multitarefa tornou-se um elemento central do ambiente de trabalho moderno, sendo frequentemente vista como sinónimo de produtividade e eficiência. No contexto hospitalar, essa realidade é ainda mais evidente, já que médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde lidam com inúmeras tarefas simultâneas, desde a execução de procedimentos clínicos até a realização de registos administrativos. Mas até que ponto essa prática afeta a qualidade dos serviços prestados e a segurança dos pacientes?
O artigo “O impacto das multitarefas em contexto hospitalar: uma revisão sistemática” faz uma análise detalhada dessa questão, apontando que quase metade do tempo de trabalho hospitalar é gasto em multitarefas. A pesquisa revela que, embora essa prática seja inevitável num ambiente de saúde, o impacto pode variar entre positivo, negativo ou neutro, dependendo da forma como é gerida.
Um dos principais alertas do estudo é a relação entre a multitarefa e o aumento na frequência de erros clínicos. Em sectores onde a precisão é essencial, como cirurgias e unidades de terapia intensiva, qualquer falha pode ter consequências irreversíveis. Além disso, há indícios de que a exposição contínua à multitarefa compromete a capacidade de atenção dos profissionais a médio e longo prazo, o que pode agravar ainda mais esse problema. Essa sobrecarga, somada ao stresse inerente à profissão, pode levar ao burnout, uma condição que prejudica tanto a saúde mental dos trabalhadores quanto a qualidade do atendimento prestado.
No entanto, o estudo também aponta que a multitarefa não pode ser vista apenas como um fator negativo. Em muitos casos, a alternância entre tarefas é necessária para garantir o atendimento adequado aos pacientes, especialmente em emergência. O desafio, portanto, não está na eliminação da multitarefa, mas sim na sua gestão eficiente. O que pode ser feito para minimizar seus impactos negativos e otimizar sua aplicação no ambiente hospitalar?
Uma possível solução seria a implementação de estratégias que reduzam a necessidade de interrupções constantes. Isso pode incluir a adoção de tecnologias que automatizem certos processos, a redistribuição de funções dentro das equipes e a criação de protocolos mais claros para definir prioridades. Além disso, programas de formação que ensinem os profissionais a lidar melhor com a multitarefa, desenvolvendo habilidades de foco e organização, poderiam trazer benefícios tanto para os trabalhadores quanto para os pacientes.
Outro aspeto relevante é a necessidade de mais pesquisas sobre o tema. Apesar da importância da questão, o artigo destaca que ainda há uma escassez de estudos que relacionem diretamente a multitarefa com a perda de atenção dos profissionais da saúde. Compreender melhor essa dinâmica é essencial para que gestores hospitalares possam definir estratégias, equilibrando a necessidade de eficiência com a preservação da qualidade dos serviços prestados.
Diante desse cenário, o debate sobre a multitarefa no ambiente hospitalar não deve ser reduzido a uma simples dicotomia entre “certa” ou “errada”. Trata-se de um fenómeno complexo que exige uma abordagem equilibrada e baseada em evidências. O avanço tecnológico e a crescente procura por serviços de saúde tornam inevitável a realização de múltiplas tarefas simultaneamente, mas isso não significa que os profissionais devam estar constantemente sobrecarregados e expostos a riscos desnecessários.
Portanto, o desafio para o futuro da gestão hospitalar é claro: encontrar um ponto de equilíbrio entre produtividade e segurança. A procura por soluções que otimizem a multitarefa sem comprometer a atenção e a precisão dos profissionais deve ser uma prioridade. Afinal, quando se trata de saúde, o menor deslize pode custar vidas!


