por Luís Mouga Lopes
Tal como acontece nos Estados Unidos da América (EUA) e na Rússia, é a extrema-direita que tem poder e preponderância em parte dos governos da União Europeia (UE). Na Ucrânia, país do Mar Negro, que se encontra devastada, o poder está entregue a partidos ultraconservadores, autoritários, nacionalistas; a reacionários que perseguem e torturam antifascistas que são condenados à pena de morte ao serem enviados para as linhas da frente de uma guerra que está a destruir a UE.
Trump, que é um animal do business, e Zelensky, que é um boy impreparado, estão ao serviço deles próprios e dos interesses Russos e Chineses, pois os EUA, a Rússia e a China continuarão a manter os intercâmbios económicos e as relações militares acordadas há muito tempo com vista ao crescimento e à defesa dessas soberanias. Com o episódio da sala oval, não foi só Zelensky que foi humilhado, mas a Europa…! Mais uma vez, a UE foi marginalizada e a sua autoestima gravemente afetada, pois os EUA deixaram a Europa entregue às suas próprias ilusões, o que é preocupante para a autocracia e calamitoso para os orçamentos de Bruxelas.
Porém, enquanto nos cercam e nos destroem, obrigando os políticos europeus a investir na indústria do armamento, no negócio da guerra, há quem se regozije com a aparente valentia de Zelensky… e com a gravata de Trump. Triste sina…! Triste União que, segundo o relatório Draghi, está pela hora da morte, visto ter desinvestido nos setores públicos e sociais e nos sistemas de inovação, tendo falhado na transformação dos seus recursos científicos em liderança industrial e sucesso empresarial, a nível mundial. Nada que me surpreenda, pois, os políticos liberais juntamente com a banca, tudo fizeram para alimentar “as portas giratórias”, vendendo tudo ao desbarato a fundos de interesse; à China, à India e a Israel.
Não obstante, enquanto se alimenta a guerra, a corrupção nos países da UE piora: segundo o índice anual da perceção da corrupção classifica a UE com pior desempenho, referindo que as economias francesa e alemã se estão a afundar todos os dias. Deixo esta nota: segundo a revista de referência do IISS, International Institute for Strategic Studies – Military balance 2025, os gastos da Europa com a defesa (em 2024) foram mais de 457 mil milhões, tendo a Rússia queimado 146 mil milhões. Números díspares, também, no que diz respeito ao número de pessoas que foram enviadas para o campo de guerra até à data, tendo a UE enviado cerca de dois milhões de efetivos (não inclui os números da Ucrânia), mais quinhentos mil do que a Rússia. A estes tristes números que cheiram a horror, foram agora anunciados mais oitocentos mil milhões de euros e outras tantas pessoas para a fogueira. E para quê? Para cobrar no futuro próximo dívida à Ucrânia devastada? Face a estes números, a mesma revista pergunta porque é que nos querem fazer pagar mais com a defesa (material bélico) quando, na realidade, o que nos falta é articular os esforços dos países da UE para a criação de uma Europa onde se promova a harmonização fiscal, o valor acrescentado, os princípios e valores comuns que se encontram na base da vida na UE: liberdade, democracia, igualdade e Estado de direito; promoção da paz e da estabilidade. Que se estabeleça o reforço do mercado interno, favorecendo o desenvolvimento sustentável assente no crescimento económico, ético e equilibrado (utopia?), com estabilidade de preços; numa economia de mercado regulado, com pleno emprego e progresso social. Que se proteja e se melhore a qualidade do ambiente…! Nestes tempos de destruição, que correm duros, lembro uma peça de Kafka, que nos deixa uma pergunta perturbadora: quanto da nossa identidade é definida pelos outros?


