Carta de um dirigente sindical vidreiro em greve

Foi numa manhã de nevoeiro que ele voltou, não, não era D. Sebastião. Emergiu das profundezas da memória de qualquer herói lusitano, não, não era Adamastor. Não falo de seres míticos, nem lendários, falo de alguém bem real que vive entre nós, falo de um herói, cuja lenda nasce de uma verdadeira batalha, uma batalha que a todos nos diz respeito, uma batalha que nunca poderá ser esquecida, falo de um homem como eu, falo do Vidreiro…

Foi na manhã de 25 de março que teve início a greve dos trabalhadores do grupo Vidrala na Marinha Grande, convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV). Pelas 5 da manhã, os trabalhadores da SB Vidros (Santos Barosa). No dia seguinte, 26 de março, iniciaram a luta os trabalhadores da Gallo Vidro (Ricardo Gallo). No terceiro dia, foram os trabalhadores da Vidrala Logistics, que deram início à sua paragem.

Esta luta teve como reivindicação, não só melhores condições salariais, melhores condições de trabalho, melhores cláusulas pecuniárias (como aumento de subsídio de turno, aumento de subsídio de alimentação e atualização de prémios e outros complementos), mas a principal reivindicação é simplesmente respeito… Respeito por quem trabalha todos os dias, todos as noites, fins de semana, aniversários, natais, passagens de ano, e todos os outros feriados…

A própria arrogância das empresas é que promoveu a união e solidariedade de todos os trabalhadores… Arrogância essa que levou a empresa a interromper as negociações com o STIV, e “comprar as assinaturas” de outra instituição sindical, que à revelia dos mesmos trabalhadores que jurou defender, assinou um acordo com valores meramente simbólicos, e muito abaixo daquilo que foi proposto pelos trabalhadores. Mais que os montantes definidos de forma unilateral pelas empresas, o que fez unir os trabalhadores foi a forma com foi legitimado esse “acordo”.

A indignação e revolta dos trabalhadores promoveu um espírito de luta e união, que há muito não era visto, não só nesta cidade, mas em todo o país, promovendo uma adesão à greve de aproximadamente 90% entre os trabalhadores efetivos das 3 empresas do grupo.

O STIV, e todos os seus membros, na condição de representante dos trabalhadores encontra-se disponível para voltar à mesa negocial com a empresa, mas infelizmente até ao momento, mantem-se o silêncio por parte das administrações. Silêncio tanto para os trabalhadores como para a comunicação social.

Preveem-se mais dias difíceis, mais dias de luta, mais dias a lutar por respeito e dignidade… não só pelos números, mas acima de tudo pelas atitudes. Mas acima de tudo, dias de união, dias de solidariedade, e eventualmente dias de vitória, pois, este Vidreiro nunca desistirá do que é digno, do que é correto, do que é justo.

Delegado sindical, vidreiro de profissão,

Wilson Triães

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.