ENERGIA SOLAR SIM, MAS NÃO ASSIM

por Manuel Costa Alves

Lembram-se, já lá vão alguns governos, de promoverem a instalação de painéis solares nos telhados das habitações? Era apresentado como um desígnio nacional e houve pessoas que aproveitaram. Depois foram-se calando. Era um programa para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis e um primeiro passo para a utilização da energia solar também como fator de democratização. Uma solução de autoconsumo nas casas portuguesas que representava a abertura de um caminho alternativo ao calcetado com combustíveis fósseis.

Em alguns países avançou-se colocando painéis solares em coberturas de edifícios públicos, autoestradas e caminhos de ferro. Na Coreia do Sul, até experimentaram captação com painéis com a forma das árvores em intervalos da floresta.

Passada essa primeira fase, os governos do nosso país fizeram um compasso de espera até que chegassem as multinacionais com respostas adequadas aos seus fins. E começaram a implantar-se em várias zonas do interior do país – esse deserto com poucos eleitores. Estão a fazê-lo em grande, com a lógica, agora muito tecno, da eucaliptação. Na Beira Baixa, o plano de latifundiar a exploração dá agora um salto de gigante.

A BP, British Petroleum, espera a aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente para construir uma megacentral fotovoltaica abrangendo uma área de cerca de 400 hectares, com 1700 de área vedada, nos concelhos de Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova, com linhas de muito alta tensão ligadas à subestação do Fundão. “Sophia” a designaram e pergunto-me como reagirá a minha filha Sofia em quem depositei anseio de sabedoria que este megalómano projeto não tem.

Além deste projeto há um outro cujo processo de consulta pública já terminou. Trata-se do projeto da Central Fotovoltaica da Beira. Contempla a instalação de 425.600 módulos numa área vedada de 524,4 hectares dos concelhos de Castelo Branco – Monforte da Beira, Malpica do Tejo, Benquerenças, União das Freguesias de Escalos de Baixo e Mata e Castelo Branco e de Idanha-a-Nova (Ladoeiro e União das Freguesias de Idanha-a-Nova e Alcafozes). Não temos falado nesta segunda central, mas devemos juntá-las para termos a ideia da extensão territorial que vai ter e os impactos ainda mais desordenadores de uma Beira Baixa com profundas carências de ordenamento. Já nem falo dos parques de menor extensão já instalados.

Pergunto-me por que razão só há pouco, a exemplo das populações, conheci estes projetos. A campanha eleitoral para deputados foi absolutamente omissa e a das autarquias idem aspas. Nenhuma informação pública, nenhuma reflexão. Nenhum candidato a órgãos de poder, ou aspirante a sê-lo, tocou no assunto. Embora haja, como estamos fartos de saber, problemas que, não existindo para as esferas partidárias, são devastadores para quem é afetado.

Não vou enumerar os vários efeitos que Ana Correia, presidente da câmara de comércio da região das Beiras, tão bem sintetizou numa carta aberta: “Não é um progresso”, mas “um atentado (…) que vai acelerar a desertificação do interior”.

Por (de)formação profissional, apenas destaco a subida da temperatura média do ar, anunciada pelo próprio projeto, de 3 a 5º C e os seus efeitos à escala local e, em determinadas condições meteorológicas, à escala regional. Conhecemos o clima do verão da Beira Baixa e o grande aumento das ondas de calor nos últimos 23 anos e o stresse hipertérmico que a todos atinge; humanos, animais e vegetação. Não pode ser. Vou à manifestação com este cartaz: Contra os combustíveis fósseis, energia solar sim; não assim.

Manuel Costa Alves

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