NINGUÉM É DONO DO PARTIDO POR ESTAR EM MAIORIA

Por João Carvalho, na XIII Convenção Nacional

Falar do Bloco de Esquerda é sempre difícil, ou pela responsabilidade que ele impõe ou pela situação em que se encontra no presente.

Há 10 anos, quando comecei a militar neste partido, plena e orgulhosamente convencido que eramos diferentes, convivi durante bons anos com camaradas que acompanhei de bandeira em punho para qualquer lado, para qualquer luta sem hesitar.

Felizmente, muitas dessas lutas com sucesso no seu desenlace, pois eram certeiras, atempadas e coerentes. Mas, ao longo dos últimos anos, a política interna mudou, o “status quo” mudou.

Se há coisa que sabemos é que na política nada é eterno e estático. O que hoje é, amanhã já não é, o que hoje damos por garantido amanhã pode não o ser.

Por muito que alguns de nós se esqueça, ninguém é dono do partido por estar em maioria e, sim, nós todos somos o partido, desde o camarada de Faro ao de Bragança, de Lisboa ao Funchal, apoiantes da moção E, da moção A, da plataforma X ou Y, todos aqui temos lugar e todos valemos o mesmo.

Não embarco na ideia da Mariana Mortágua, e cito, de que “têm de aceitar que são uma minoria”. Claro que somos uma minoria! Mas a maioria tem também de aceitar as minorias. Afinal, o Bloco de Esquerda também é um partido minoritário. Aproveitemos as minorias para sermos maiores.

Neste partido, se há história que temos para contar é que já renascemos muitas vezes, e quase sempre de maneira diferente.

Hoje, camaradas talvez seja a Convenção das mais importantes que já tivemos. Sem sombra de dúvida, temos a oportunidade mais certeira dos próximos dois anos de relançar o partido para o lugar que nunca devia ter saído: o da pluralidade, da unidade, da utopia, da esperança da rua, da esquerda.

De pouco irá servir falar da habitação aos transportes, da saúde à educação, do ambiente ao feminismo, se lá fora poucos nos estão a ouvir, porque aqui dentro até nem nos ouvimos a nós próprios.

Para isso, temos de enterrar muitos machados de guerra. Quem ganhará com isso será o partido e por sua vez as pessoas.

Hoje, apesar da maioria o negar, o nosso partido está numa situação sensível, sem rumo, sem linha política, porque nem sequer se fala nela. Aliás o que é novo no partido são os balanços, como se diz no porto, “passarem ao Batalha”.

Mesmo na preparação desta Convenção, a verdade é que nenhum militante do Bloco de Esquerda sabe efetivamente qual o universo de militantes deste partido. Temos abstenções assustadoras, a rondar os 80%, gente que é/foi bloquista e que já não quer saber do partido. Que já nem sequer vota!

Quem é que falhou? Estará mesmo tudo bem como nos querem vender? A culpa afinal foi da conjuntura, justificação que serve para qualquer derrota ou de quem não quer fazer balanços. E não me venham com a história que o balanço foi feito na última Conferência Nacional, porque foi, nada mais nada menos, que um vazio, uma nebulosa, um cumprir de calendário.

Para os duvidosos, deixo aqui um repto, olhem para os factos. Quantos camaradas conhecem que já abandonaram o partido? Quantos eleitores já perdemos? Quantos temos mais que perder?

Vamos arriscar mais uma vez que após esta Convenção saiam mais militantes? Esperemos que não.

Cada um que assuma a sua responsabilidade e haja em consciência.

Ainda vamos a tempo, tal como salvar o Planeta, assim haja vontade para o fazer, assim haja vontade de começar de novo!!!

João Carvalho

Um pensamento sobre “NINGUÉM É DONO DO PARTIDO POR ESTAR EM MAIORIA

  1. Caro camarada, hoje já não temos tempo para nos iludirmos. Eu andei iludido cerca de vinte anos. Mas essa ilusão desvaneceu-se no exato momento em que conclui pela falta de democracia participativa reinante. Hoje já não sou militante/aderente do BE e, não lamento dizê-lo, mas de fato já nem sequer sou votante no BE. Comigo ou se vive internamente a ideologia que se quer exteriorizar ou não vale a pena insistir na solução. Espero que os elementos da Convergência concluam pela necessidade de criar um novo partido que corresponda, no mínimo, ao velho BE do tempo do Miguel Portas ou então andam a vaguear no seu interior sem se aperceberem que o mesmo está num processo de desfalecimento, num partido a mirrar aos olhos do povo português. E não se pode corporizar o partido apenas para assegurar postos no Parlamento ou noutras instâncias.

    Gostar

Deixe uma resposta para José Albano da Silva Mourão Cancelar resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.