Líderes do Governo de coligação alemão sofrem derrota esmagadora nas eleições europeias.
Entrevista a Gotthard Krupp, director da revista Sopode, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”
P: O resultado das eleições europeias na Alemanha é um terramoto. Quais são os fatores essenciais e o que é que isso significa em relação ao governo de Scholz e à guerra?
Gottard Krupp (GK): Podemos, de facto, dizer que foi um terramoto. Nas últimas eleições federais, os partidos do governo liderado pelo chanceler (o SPD, os Verdes e o FDP), obtiveram em conjunto 52% do eleitorado, e agora têm apenas 31%. O governo de Scholz não tem maioria popular. O SPD alcançou o seu pior resultado de sempre numa eleição nacional. Na Alemanha, os Verdes adoptaram uma posição contra a sua própria história, uma posição extremista a favor da guerra; perderam quase 40% dos seus eleitores em relação às últimas eleições europeias. Esta quebra constitui uma rejeição radical de toda a política do governo de Scholz.
A maioria do povo alemão teme que as políticas do Governo empurrem a Alemanha diretamente para a guerra com a Rússia. E a maioria (mais de 60%) opõe-se também ao apoio financeiro e militar à guerra genocida de Netanyahu contra o povo palestiniano. A maioria da sociedade recusa-se a pagar o preço desta política belicista: encerramento de hospitais, perda de salários reais, aumento da pobreza, aumento drástico dos preços, nomeadamente das rendas de casa, cortes nas pensões de aposentação. O partido Die Linke, que apoiou o fornecimento de armas à Ucrânia e as sanções contra a Rússia, perdeu quase 50% dos seus eleitores. O principal partido da burguesia, a CDU (União Democrata-Cristã), quase não conseguiu beneficiar desta crise existencial do Governo. Pelo contrário, o partido de extrema-direita, AfD (Alternativa para a Alemanha), conseguiu concentrar os votos de protesto, sobretudo nos Länder (Estados regionais) da Alemanha de Leste, particularmente afetados pela destruição social.
A Aliança Sahra Wagenknecht – Razão e Justiça (BSW), que se formou como partido há apenas seis meses, após a cisão do partido Die Linke, registou um sucesso histórico – com 6,2% dos votos – segundo os comentários em quase todos os jornais. Nunca antes um partido tinha conseguido ultrapassar a barreira dos 5% (limiar mínimo para a eleição de deputados ao PE, na Alemanha) ao concorrer pela primeira vez.
P: Podes dizer-nos mais sobre o resultado da Aliança Sahra Wagenknecht?
GK: Na Turíngia, a BSW obteve 15% dos votos, ou seja, mais do que o SPD, os Verdes e o FDP juntos. Aí, o partido Die Linke perdeu quase 60% dos seus eleitores. A guerra na Ucrânia, a luta contra o fornecimento de armas e a guerra social travada pelo Governo federal para fazer com que o povo pague o custo da guerra estiveram no centro da campanha. A BSW foi o único partido que apresentou uma moção, no Bundestag (Parlamento), para ser suspenso o fornecimento de armas à Ucrânia e a Israel. “O país precisa absolutamente de uma nova política… pela justiça social… pela paz… pela liberdade de expressão”, afirmou Sahra Wagenknecht.
O partido BSW pôde contar com círculos de apoio que surgiram em todo o país e organizaram a campanha eleitoral. Em 18 cidades, o BSW juntou grupos organizados totalizando mais de 20.000 pessoas. A mobilização foi também expressa através da iniciativa “Sindicalistas apelam ao voto na BSW”. 550.000 votos a favor da BSW vieram de ex-eleitores do SPD e 450.000 do Die Linke. Muitas pessoas, incluindo nós da revista Sopode, associam este novo partido BSW à esperança de ver, finalmente, o surgimento de uma representação política para responder às exigências da maioria da sociedade contra as políticas do governo de Scholz.

